sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Encontrar a força em si mesmo é a meta

Ora, por que procurar no outro ou fora de nós mesmos nossa verdadeira força e poder?
Acreditamos, muitas vezes por insegurança, que o outro sempre sabe mais, tem razão, e assim vamos sendo o que o outro quer, mas não o que realmente somos.
Repare como nossa personalidade é moldada pelos ensinamentos dos nossos pais, professores, parentes, amigos, livros... Pouco nos voltamos para nossa própria sabedoria interna, que é infinita e segura.
Para exemplificar o que digo aqui, transcrevo uma lenda japonesa que traz, em sua essência, profundo material de reflexão, mesmo diante de tanta simplicidade.

O nome da gata

(Texto e desenhos: Claudio Seto)

Há muitos e muitos anos, numa pequena cidade no interior do Japão, vivia um casal de velhinhos. Eles levavam uma vida feliz e tranquila e amavam a natureza. Certo dia, quando os velhinhos visitavam um templo, o monge deu a eles uma gatinha que havia nascido sob o assoalho do pavilhão de orações.
O velhinho e a velhinha receberam a linda gatinha como quem recebe uma graça divina. Eles não tinham filhos e sentiram que podiam criar aquele pequeno animal com todo carinho e dedicação. Enquanto voltavam para casa, iam discutindo qual nome dariam à gatinha.
- Vamos dar o nome de uma pessoa forte e valente para que nossa gatinha seja sadia e corajosa - disse o velhinho.
- Sugiro que seja Musashi-bo Benkei, pois é um forte e valente guerreiro e ao mesmo tempo, um monge dedicado - respondeu a velhinha.
- Seria um nome perfeito se Benkei não fosse nome de homem. Nossa gatinha tem que ter nome de mulher.
- Que tal Tomoe Gozen, nome da mais forte mulher guerreira do Japão? Ela participou de várias batalhas cavalgando pelos campos, vestida de armadura e brandindo sua mortal naguinata (alabarda). Lutou ao lado do marido, Minamoto no Yoshinaga, até tomar a capital do Japão e expulsar os poderosos de Heian-kyo (capital do antigo Japão).
- Tomoe Gozen pode ser um nome interessante, porém é um nome muito comprido. Para chamar nossa gatinha será preciso repetir: Tomoe Gozen, Tomoe Gozen, Tomoe Gozen... Ah! é comprido demais.
Assim os velhinhos continuaram pensando em qual nome colocar na gatinha, quando, enfim, chegam em casa. Um vizinho que os viu chegar foi logo perguntando:
- Oh! Que linda gatinha, qual é o nome dela?
- Pois estávamos pensando exatamente em qual nome dar para ela. Tem alguma sugestão?
- Deixe-me ver... Acho que Tora (tigre) combina com as manchas na pele dela.
- Pensando bem é um bom nome, pois o tigre é um animal forte e destemido.
Assim a gatinha passou a ser chamada de Tora, sendo tratada com muito carinho.
No dia seguinte, o casal brincava com a gatinha chamando Tora pra cá e Tora pra lá. Nisso, a mulher do vizinho que observava do portão perguntou:
- Por que deram o nome de Tora para um bichinho tão delicado?
- A sugestão foi de seu marido, e nós aceitamos porque queremos que nossa gatinha cresça muito forte.
- Ah! Meu marido não sabe nada. O animal mais forte que existe é o dragão. Se lutarem dentro d’água, o dragão vence o tigre facilmente.
O casal concluiu que a vizinha tinha razão e mudaram o nome da gatinha para Dragão.
Alguns dias depois, passou por ali um andarilho e comentou:
- É a primeira vez que ouço uma gatinha sendo chamada de Ryu (dragão). Por que puseram um nome tão diferente para uma gatinha?
Mais uma vez o velhinho explicou que era um nome sugestivo para a gatinha crescer forte.
- Realmente, o dragão é um animal muito forte, porém, todos nós sabemos que em dia de grande tempestade, o dragão sobe nadando na chuva e penetra numa nuvem para chegar ao céu. Portanto, se não fosse a nuvem, ele jamais chegaria ao céu. Isso significa que a nuvem é mais forte que o dragão.
O casal pensou, pensou, e concluíram que o andarilho tinha razão. Assim, mudaram o nome da gatinha para Kumo (nuvem). O andarilho seguiu sua caminhada e, chegando ao castelo mais próximo, comentou o que tinha acontecido.
Na época, havia na corte muitos debates culturais. Os intelectuais discutiam incansavelmente, durante anos a fio, qual era a estação do ano mais bonita: a primavera ou o outono. Também faziam debates para saber qual a flor mais bonita: a cerejeira (Sakura) ou a ameixeira (Ume). Houve, então, grande interesse em sugerir o nome da gatinha pelos intelectuais do castelo. Um deles foi até o vilarejo e sugeriu ao casal que mudasse o nome da gatinha que agora chamava Kumo (nuvem), para Kaze (vento).
- Por que Kaze? - Perguntou o velhinho.
- Ora, pense bem! Um sopro de vento e a nuvem dissipa-se toda. Por isso, é melhor dar o nome de Kaze (vento).
O bom velhinho pensou um pouco e concluiu que o cortesão tinha razão. Assim, o nome da gatinha foi mudado para Kaze.
Nisso chegou outro intelectual da corte e questionou:
- Ora, Kaze não me parece forte suficiente. Estive observando, no último vendaval, que o vento destelhou muitas casas, mas não conseguiu derrubar as paredes. Isso significa que Kabe (parede) é mais forte que Kaze (vento).
O argumento pareceu muito convincente ao velhinho e mais uma vez o nome da gatinha foi mudado, agora para Kabe (parede).
- Acho que Kabe será seu nome definitivo, disse o velhinho olhando satisfeito para a gatinha.
Nisso, a velhinha fez uma observação:
- Parede não é tão forte assim. Veja ali aquele buraco. Foi o Nezumi (rato) quem fez.
- Então precisamos mudar o nome dela para Nezumi.
- Gato com nome de rato não fica muito bem, e rato tem medo de Neko (gato)...
- Realmente, o gato é mais forte que o rato. Então vamos chamá-la de Gatinha. E assim passaram a chamar a gatinha de Gatinha e parece que foi uma medida acertada, pois ninguém mais deu palpite no nome dela.

Beijinhhos... sayonara!

Namaste Shanti om

Paz Profunda

Marcix

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